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sábado, 14 de junho de 2014

Aprender a pensar é descobrir o olhar...







A diferença entre ver e olhar é tanto uma distinção semântica que se torna importante em nossos sofisticados jogos de linguagem tomada da tarefa de compreender a condição humana – e, nela, especialmente as artes –, quanto um lugar comum de nossa experiência. Basta pensar um pouco e a diferença das palavras, uma diferença de significantes, pode revelar uma diferença em nossos gestos, ações e comportamentos. Nossa cultura visual é vasta e rica, entretanto, estamos submetidos a um mundo de imagens que muitas vezes não entendemos e, por isso, podemos dizer que vemos e não vemos, olhamos e não olhamos. O tema ver-olhar – antigo como a filosofia e a arte – torna- se cada vez mais fundamental no mundo das artes e estas o território por excelência de seu exercício. Mas se as artes nos ensinam a ver – olhar é porque nos possibilitam camuflagens e ocultamentos. Só podemos ver quando aprendemos que algo não está à mostra e podemos sabê-lo. Portanto, para ver olhar, é preciso pensar.




Ver está implicado ao sentido físico da visão. Costumamos, todavia, usar a expressão olhar para afirmar outra complexidade do ver. Quando chamo alguém para olhar algo espero dele uma atenção estética, demorada e contemplativa, enquanto ao esperar que alguém veja algo, a expectativa se dirige à visualização, ainda que curiosa, sem que se espere dele o aspecto contemplativo. Ver é reto, olhar é sinuoso. Ver é sintético, olhar é analítico. Ver é imediato, olhar é mediado. A imediaticidade do ver torna-o um evento objetivo. Vê-se um fantasma, mas não se olha um fantasma. Vemos televisão, enquanto olhamos uma paisagem, uma pintura.


A lentidão é do olhar, a rapidez é própria ao ver. O olhar é feito de mediações próprias à temporalidade. Ele sempre se dá no tempo, mesmo que nos remeta a um além do tempo. Ver, todavia, não nos dá a medida de nenhuma temporalidade, tal o modo instantâneo com que o realizamos. Ver não nos faz pensar, ver nos choca ou nem sequer nos atinge. As mediações do olhar, por sua vez, colocam-no no registro do corpo: no olhar – ao olhar - vejo algo, mas já vitimado por tudo o que atrapalha minha atenção retirando-a da espécie sintética do ver e registrando- a num gesto analítico que me faz passear por entre estilhaços e fragmentos a compor – em algum momento – um todo. O olhar mostra que não é fácil ver e que é preciso ver, ainda que pareça impossível, pois no olhar o objeto visto aparece em seus estilhaços de ser e só com muito custo é que se recupera para ele a síntese que nos possibilita reconstruir o objeto. É como se depois de ver fosse necessário olhar, para então, novamente ver. Há, assim, uma dinâmica, um movimento - podemos dizer - um ritmo em um processo de olhar-ver. Ver e olhar se complementam, são dois movimentos do mesmo gesto que envolve sensibilidade e atenção.



O olhar diz-nos que não temos o objeto e, todavia, nos dispõe no esforço de reconstituí-lo. O olhar nos faz perder o objeto que visto parecia capturado. Para que reconstituí-lo? Para realmente captura-lo. Mas essa captura que se dá no olhar é dialética: perder e reencontrar são os momentos tensos no jogo da visão. Há, entretanto, ainda outro motivo para buscar reconstruir o objeto do olhar: para não perder além do objeto, eu mesmo, que nasço, como sujeito, do objeto que contemplo – construo enquanto contemplo. Olhar é também uma questão de sobrevivência. Ver, por sua vez, nos liberta de saber e pode nos libertar de ser. Se o olhar precisa do pensamento e ver abdica dele, podemos dizer que o sujeito que olha existe, enquanto que o sujeito que vê, não necessariamente existe. Penso, logo existo: olho, logo existo. Eis uma formulação para nosso problema.



 Mas se não existo pelo ver, não estou implicado por ele nem à vida, nem à morte. Ver nos distancia da morte, olhar nos relaciona a ela. O saber que advém do olhar é sempre uma informação sobre a morte. A morte é a imagem. A imagem é, antes, a morte. Ver não me diz nada sobre a morte, é apenas um primeiro momento. Ver é um nascimento, é primeiro. O olhar é a ruminação do ver: sua experiência alongada no tempo e no espaço e que, por isso, nos instaura em outra consistência de ser. Por isso, nossa cultura hipervisual dirige-se ao avanço das tecnologias do ver, mas não do olhar. É natural que venhamos a desenvolver uma relação de mercadoria com os objetos visualizáveis e visíveis. O olhar implica de sua parte, o invisível do objeto: a coisa. Ele nos lança na experiência metafísica. Desarvoramos a perspectiva, perturba-nos. Por isso o evitamos. Todavia, ainda que a mediação implicada no olhar faça dele um acontecimento esparso, pois o olhar exige que se passeie na imagem e esse passear na imagem traça a correspondência ao que não é visto, é o olhar que nos devolve ao objeto – mas não nos devolve o objeto - não sem antes dar-nos sua presença angustiada.



O olhar está, em se tratando do uso filosófico do conceito, ligado à contemplação, termo que usamos para traduzir a expressão Theorein, o ato do pensamento de teor contemplativo, ou seja, o pensar que se dá no gesto primeiro da atenção às coisas até a visão das idéias tal como se vê na filosofia platônica. Paul Valéry disse que uma obra de arte deveria nos ensinar que não vimos àquilo que vemos. Que ver é não ver. Dirá Lacan: ver é perder. Perder algo do objeto, algo do que contemplamos, por que jamais podemos contemplar o todo. O que se mostra só se mostra por que não o vemos. Neste processo está implicado o que podemos chamar o silêncio da visão: abrimo-nos à experiência do olhar no momento em que o objeto nos impede de ver. Uma obra de arte não nos deixa ver. Ela nos faz pensar. Então, olhamos para ela e vemos.

Texto de Márcia Tiburi: Graduada em Filosofia e Artes e Mestre e Doutora em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.



Essa mensagem nos faz um convite e nos alerta também...
Será que estamos vendo de forma clara?
Conseguimos captar o real sentido daquilo que vemos?
Ou apenas olhamos...?



Esse "olhar" de forma mais abrangente, mais demorado...
Treinamos para olhar e ver?
Ou estamos limitados ao circulo "vicioso" de "ver sem enxergar"...
Sem sentir, sem termos noção da beleza de cada detalhe...


Olhe!

Observe!


Aplauda cada dia, o Sol, a Chuva,
 o Céu, o Mar, as Estrelas...
A Natureza em festa...
Brindemos a vida...
Agradeçamos ao Criador!
Com esse novo olhar!
Feliz vida!
Um abraço, muito carinho...
Nice.





14 comentários:

  1. Abrir bem os olhos pra tudo perceber.Há tanto,tanto! lindo aqui! bjs, chica

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  2. Boa tarde Nyce.. o dia que os véus colocados diante do nosso olhar tombarem a alma poderá vivenciar a realidade da vida.. bjs e até sempre amiga sempre positiva

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  3. Que mensagem linda de verdade.

    Me tocou muito.

    Beijinhos

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  4. Linda mensagem!
    A imagem do cachorrinho me arrancou lágrimas...
    Acho que os olhares tornam-se cada vez mais breves e superficiais, em um mundo com tanta informação, que a maioria das coisas passam despercebidas.
    Boa noite!

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  5. Verdadeiro, excelente mensagem para se começar a semana de olhos abertos.
    Beijo Lisette.

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  6. E as asas das palavras ficam a cada dia mais compridas, conforme a depuração que só ocorre no pensamento! abração

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  7. Boa tarde,
    O Olhar tem várias interpretações, por vezes ou quase sempre o mesmo substitui as palavras.
    Dia feliz
    AG
    http://momentosagomes-ag.blogspot.pt/

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  8. Olá Nyce, belíssimo texto que você nos trouxe dessa Doutora filósofa Márcia.
    E belíssimas ilustrações - a do cão está perfeita: olhe, observe. A gente só vê e nem olha o que falta.
    Adorei.
    Bjo amigo
    Carmem

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  9. Precisamos separa um tempo no nosso dia para pensar...
    Muito lindo o texto.

    Abraços

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  10. Um texto reflexivo Nyce, e eu diria que olhar seria muito mais que pensar, já que pensar nos faz perder o real significado das coisas, seria o "sentir" com a alma, este nos mostra o real significado do que acontece dentro de nós.
    Um feliz e abençoado domingo, beijos no coração!

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  11. Querida amiga hoje vim te desejar uma abençoada semana.
    E para dizer que estou voltando aos pouquinho, pois a vida real está exigindo um pouquinho mais de minha atenção. Estava sentindo muitas saudades de vir aqui!
    abraço fraterno
    Maria Alice

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  12. MINHA QUERIDA
    Vou ficar ausênte não sei por quanto tempo descobri cálculo biliar na vesícula.Sinto muitas dores, enjoo.
    Agradeço pelo carinho, comentários, amizade,

    forças, ânimo,....

    sem vcs nada teria sentido!!
    Ana

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  13. Mensagem maravilhosa para um grande reflexão ...
    Parabéns!!!

    Te desejo uma noite de muita paz ...
    Bjos
    My

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  14. Querida amiga
    Hoje é só para dizer que estou com saudades de estar aqui, e de estar no meu blog com mais calma, para lhes dar atenção e carinho que a mim tem me doado desde que fiz nascer o meu cantinho!
    OBRIGADA pela sua carinhosa presença lá no meu cantinho.
    Que Deus a abençoe hoje e sempre...
    Mais uma vez obrigado de coração
    Abraço amigo
    Maria Alice

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