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sábado, 3 de setembro de 2011

Pense nisso, mas pense agora.

SENTAR À JANELA

    O jovem advogado, certo dia, deu-se conta de como as pequenas coisas são importantes na vida, e escreveu o seguinte:

    Era criança quando, pela primeira vez, entrei em um avião.  A ansiedade de voar era enorme.

    Eu queria me sentar ao lado da janela de qualquer jeito, acompanhar o vôo desde o primeiro momento e sentir o avião correndo na pista cada vez mais rápido até a decolagem.

    Ao olhar pela janela via, sem palavras, o avião rompendo as nuvens, chegando ao céu azul.  Tudo era novidade e fantasia.

    Cresci, me formei, e comecei a trabalhar.  No meu trabalho, desde o início, voar era uma necessidade constante.

    As reuniões em outras cidades e a correria me obrigavam, às vezes, a estar em dois lugares num mesmo dia.

    No início pedia sempre poltronas ao lado da janela, e, ainda com olhos de menino, fitava as nuvens, curtia a viagem, e nem me incomodava de esperar um pouco mais para sair do avião, pegar a bagagem, coisa e tal.

    O tempo foi passando, a correria aumentando, e já não fazia questão de me sentar à janela, nem mesmo de ver as nuvens, o sol, as cidades abaixo, o mar ou qualquer paisagem que fosse.
   
    Perdi o encanto. Pensava somente em chegar e sair, me acomodar rápido e sair rápido.

    As poltronas do corredor agora eram exigência. Mais fáceis para sair sem ter que esperar ninguém, sempre e sempre preocupado com a hora, com o compromisso, com tudo, menos com a viagem, com a paisagem, comigo mesmo.

    Por um desses maravilhosos “acasos” do destino, estava eu louco para voltar de São Paulo numa tarde chuvosa, precisando chegar em Curitiba o mais rápido possível.

    O vôo estava lotado e o único lugar disponível era uma janela, na última poltrona.  Sem pensar concordei de imediato, peguei meu bilhete e fui para o embarque.

    Embarquei no avião, me acomodei na poltrona indicada: a janela. Janela que há muito eu não via, ou melhor, pela qual já não me preocupava em olhar.

    E, num rompante, assim que o avião decolou, lembrei-me da primeira vez que voara. Senti novamente e estranhamente aquela ansiedade, aquele frio na barriga. Olhava o avião rompendo as nuvens escuras até que, tendo passado pela chuva, apareceu o céu.

    Era de um azul tão lindo como jamais tinha visto. E também o sol, que brilhava como se tivesse acabado de nascer.

    Naquele instante, em que voltei a ser criança, percebi que estava deixando de viver um pouco a cada viagem em que desprezava aquela vista.

    Pensei comigo mesmo: será que em relação às outras coisas da minha vida eu também não havia deixado de me sentar à janela, como, por exemplo, olhar pela janela das minhas amizades, do meu casamento, do meu trabalho e convívio pessoal?

    Creio que aos poucos, e mesmo sem perceber, deixamos de olhar pela janela da nossa vida.

    A vida também é uma viagem e se não nos sentarmos à janela, perdemos o que há de melhor: as paisagens, que são nossos amores, alegrias, tristezas, enfim, tudo o que nos mantém vivos.

    Se viajarmos somente na poltrona do corredor, com pressa de chegar, sabe-se lá aonde, perderemos a oportunidade de apreciar as belezas que a viagem nos oferece.

    Ademais, pode ser que ao descer do avião da vida já não encontremos ninguém a nossa espera.
 
    Pense nisso! 

    Se você também está num ritmo acelerado, pedindo sempre poltronas do corredor, para embarcar e desembarcar rápido e “ganhar tempo” pare um pouco e reflita sobre aonde você quer chegar.

    A aeronave da nossa existência voa célere e a duração da viagem não é anunciada pelo comandante.

    Não sabemos quanto tempo ainda nos resta. Por essa razão, vale a pena sentar próximo da janela para não perder nenhum detalhe.

    Afinal, “a vida, a felicidade e a paz são caminhos e não destinos”.

    Pense nisso, mas pense agora.
(desconheço autoria)



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