Rotina.
“Parem de falar mal da rotina/parem com esta sina anunciada/de que tudo vai mal porque se repete”.
Versos de Elisa Lucinda.
“Parece, mas não se repete/não pode repetir/é impossível/o ser é outro/o dia é outro/a hora é outra/e ninguém é tão exato”.
Acordar, tomar banho, trabalhar, voltar pra casa… parece tédio, mas é apenas rotina, e a nossa rotina quem cria somos nós mesmos. Depende de nós testar percursos diferentes para chegar aos mesmos lugares, comer algo nunca antes provado, vestir uma cor que até então não nos atrevíamos, telefonar para um amigo sumido, ler um livro há séculos abandonado na estante, dançar sozinho no meio da sala. Rotinas podem ser reinventadas, rotinas podem ser quebradas, rotinas podem ser curtidas, rotinas são sempre escolhidas. Reclamar dela é miopia: o alvo da crítica é, na verdade, nossa preguiça em fazer as coisas de outro modo, de arriscarmos umas diferenças.
Na rotina de Elisa Lucinda está a poesia, o teatro e uma vitalidade contagiante. É uma mulher que faz pensar, que faz rir, que faz chorar, e que coloca nisso tudo uma energia que transborda. Ela lida com versos como se eles fossem a coisa mais trivial do mundo, tão rotineiros (e essenciais) como o pãozinho na mesa do café. Escreve e diz o que escreve, e sente o que diz, e vive o que sente. O ciclo se fecha, não há por onde escapar, ela está totalmente dentro dela mesma, 100% íntegra em relação à sua dor, ao seu amor e ao seu humor. Eu a chamo de furacão Elisa, e ela realmente faz ventar por onde passa.
Hoje à noite, se eu não tivesse que estar em São Paulo, estaria sentadinha no Teatro São Pedro, para assistir ao espetáculo “Parem da Falar Mal da Rotina,” que ela já apresentou com sucesso em várias capitais do país. Dizem que a gente sai do teatro com vontade de realizar coisas, de recuperar projetos cancelados, retomar planos que caíram no esquecimento. Eu não duvido. Porque a rotina da gente só é chata se a gente não tem inspiração, e Elisa Lucinda sabe inspirar. Sabe cutucar a onça. “Nunca ouvi ninguém falar mal de determinadas rotinas: chuva, dia azul, crepúsculo, primavera, lua cheia, céu estrelado, barulho do mar”. Certas repetições são sublimes, segundo ela. “São nossos óbvios de estimação”. Ninguém nos impõe nada, nossa rotina é leve ou pesada de acordo com nossa capacidade de gerenciar a própria vida e de ver graça nela, do jeito repetitivo que ela é, e ao mesmo tempo sempre inédita.
Martha Medeiros
Lendo essa crônica da Martha Medeiros, fiquei aqui refletindo! Não consigo entender os motivos que nos levam a falar mal da rotina... Fiquei pensando no por do Sol, na lua linda acompanhada de estrelas numa noite clara, onde o céu parece acenar para nós! Veio forte a lembrança das águas cristalinas correndo sem dizer para onde vão, lindamente seguindo uma rotina que dia após dia se repete. Quando a Primavera chega, as flores parecem dançar, sempre perfumando e enfeitando, rotineiramente, ano após ano... Campos verdejantes, árvores orvalhadas, caminhos conhecidos e outros a serem descobertos! Lembrei de vários dias felizes que gostaria de eternizar...doce rotina!
Olha cheguei a conclusão: "Gosto muito da rotina" e como diz os versos de "Elisa Lucinda"
“Parece, mas não se repete/não pode repetir/é impossível/o ser é outro/o dia é outro/a hora é outra/e ninguém é tão exato”.
Feliz domingo!
Abraços...
Nice.